“As pessoas costumam achar que as
fotos são só uma ilustração visual do texto, mas elas são muito mais que isso”
Por: Camila Pasin
A
fotógrafa Amanda Lourenço, formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, fala sobre a influência do fotojornalismo no mundo
contemporâneo e como esse “poder” da imagem é utilizado pela imprensa:
Como
você enxerga a influência do fotojornalismo na sociedade atual?
Existe hoje, mais do que nunca, a vertente do jornalismo
assumidamente parcial. Mas mesmo os veículos com posturas ou posições políticas
declaradas costumam ser sutis nessa influência que exercem, e acho que o
fotojornalismo é, trabalhando em conjunto com o texto, a ferramenta que mais
pode favorecer esse tipo de subliminariedade. O melhor exemplo que consigo me
lembrar disso é aquela foto clássica do Hugo Chávez que Lula Marques, fotógrafo
da Folha, fez em 2008, que virou capa do jornal.
Acho que essa é uma das melhores sacadas com enquadramento em fotojornalismo
que eu conheço. E, no caso dessa capa, pouco importa a notícia, a própria foto
contém a mensagem.
Então
você acha que, às vezes, a imagem pode falar muito mais do que o próprio texto
escrito na matéria?
A depender da intenção do repórter, do diagramador
e do editor, sim. E a
fotografia devidamente selecionada é um tipo poderoso de entrelinha, porque
inevitavelmente a primeira coisa que você vê numa notícia é a imagem, nem o
título, mas a foto mesmo, se ela estiver em destaque. E as pessoas costumam
achar que as fotos são só uma ilustração visual do texto, mas elas costumam ser
muito mais que isso.
E quando a arte de fotografar deixa de representar
o real e passa a ser um jogo de interesses?
Acho que
tudo é sempre um jogo de interesses. É o interesse do fotógrafo versus o
interesse do veículo pra quem ele trabalha versus o interesse do fotografado. Costuma
ser sempre assim... Mas nunca deixa de ser uma arte por isso.
Usando
como exemplo a foto de Lula Marques, de novo. Eu não sei qual a postura
política dele, se ele é a favor ou contra o Hugo Chávez. Aí cabe ao veículo que
comprar a foto dar seu devido significado a ela, apesar de qualquer
pré-interpretação que ela possibilite por causa do trocadilho com o Mickey. Mas
nem por isso ela deixa de ser uma foto incrível, sabe?
E é isso
que você disse, a fotografia no fim das contas é só uma representação, e por
isso mesmo ela dá margem a tantas interpretações.
E imparcialidade? É possível praticá-la no
fotojornalismo?
A partir
do momento em que um assunto é fotografado, ele já se torna a opinião parcial
de quem o está fotografando. Afinal, escolher fazer o enquadramento “x” e não “y”
de um assunto fica sempre a critério do fotógrafo, e isso já é uma
interpretação do real, e não uma representação fiel dele.
Amanda,
qual sua opinião sobre a influência da fotografia em situações delicadas, por
exemplo, as Ditaduras ou o padrão de beleza atual?
Acho que a influência é total, né? E não é à toa
que a fotografia é aliada tão forte de todo o tipo de mensagem, seja ela boa ou
má.
Em
relação às campanhas antitabagismo/alcoolismo/drogas? Na sua opinião, o que as
torna eficazes ou não?
Acredito que elas podem provocar um choque até, mas
é só uma questão de virar o maço de cigarro ao contrário... E é um tipo de campanha que eu tenho minhas dúvidas
se quer realmente ser eficaz. Pelo menos essas campanhas antitabagismo. Mas,
nesse caso, eu só acho que não funciona porque nada mais choca as pessoas,
visualmente.
Podemos
pegar como exemplo as milhares de fotos de crianças passando fome, ou de bebês
jogados no lixo, animais maltratados e essas dezenas de imagens que aparecem no
facebook volta e meia. Elas provocam um choque, causam um desconforto, mas é
temporário.
Hoje em
dia há uma avalanche de informações visuais tão grande, que basta um minuto para
a pessoa se distrair. Talvez seja por isso que não funciona. Então por mais que
uma imagem tenha o poder de influenciar uma pessoa, ela, ao mesmo tempo, tem
uma influência de duração cada vez mais curta, por causa do excesso de
informações. E uma influência passageira, no caso das campanhas, acaba não
surtindo efeito.